Artigo
Culpa de Lula
De Fabiana Pacheco*

Hoje não vou escrever sobre a decisão do STF que, de novo, atropela a Constituição Federal ao negar o Habeas Corpus à Lula, dando a senha para o juiz de primeira instância, Sérgio Moro, decretar, mesmo que infringindo a tramitação do processo, a prisão do ex-presidente. Esse assunto, deixo para os magistrados. Hoje, ainda que com dor, me desnudo de paixões e ideologia para falar de números, dos quais fugi a minha vida toda.
De um Brasil antes e depois de 2003. Um país que até aquele ano (segundo dados do IBGE, ONU, OMS, Banco Mundial e UNICEF) tinha 34% da população vivendo na pobreza e 15% na extrema pobreza, taxa de desemprego na casa dos 12,2%, salário mínimo de R$ 200,00, PIB de R$ 1,48 trilhão e Selic em 18,9%.
Até aquele ano, o país era a 13ª economia do mundo e tinha indicadores sociais piores do que muitos países da África, embora se auto declarasse em desenvolvimento. Era um Brasil com o nome no Mapa da Fome da ONU. Com poucas oportunidades para a população pobre, sobretudo, negra.
Um país realmente diferente do que se tornou pós 2003, que vivi e saboreie no dia a dia da minha profissão. O Brasil que cresceu, pulando para a 7ª economia do mundo (dado de 2014), com PIB de R$ 4,84 trilhões. Reduziu a taxa de desemprego a 5,4%. Retirou mais de 30 milhões de pessoas da extrema pobreza.
Um Brasil de oportunidades aos jovens, que criou 18 universidades públicas, 214 escolas técnicas e o Ciência sem Fronteira, responsável por beneficiar mais de 100 mil estudantes. Que atendeu mais de 1,3 milhão de jovens pelo FIES.
Que levou luz para 9,5 milhões de brasileiros e ajudou a 1,5 milhão de pessoas a realizarem o sonho da casa própria com o Minha Casa, Minha Vida. Um país que viu a desigualdade social cair 11,4%.
São esses números, reais, que tornam Lula o maior presidente que o Brasil já teve e a história, mais à frente, vai se encarregar de consagrar. Mas, confesso que, ter pleno conhecimento disso dói. No entanto, dói mais ainda a falta de reação popular. Por isso, Lula é culpado, sim.
Culpado por não ter enfrentado os grandes meios de comunicação. Por ter acreditado nas elites brasileiras, sempre preconceituosas. Por não ter investido em cidadãos conhecedores de sua história. Culpado por ter se aliado ao que há de pior na sociedade brasileira, em nome da governabilidade.
Agora, aprende, da pior forma possível, que nada disso vale a pena. O que vale é o conhecimento, a consciência do que cada um de nós representa na história do nosso país, da nação. Essa, sim, é a maior arma que o ser humano pode ter, para combinar liberdade com justiça.
* Fabiana Pacheco é jornalista
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